O que me fez sentir 2024

É tempo de retrospectivas e, sinto dizer, não há como escapar. Elas vem por todos os lados, seja do seu mainstream de filmes ou música, do seu portal de notícias preferido, e agora, também, de alguém que você só esperava ouvir sobre all cynefin things

Decidi escrever essa retrospectiva, primeiro, como um exercício para revisitar tudo relacionado a cultura e aprendizado me fez “sentir” o ano que está acabando. Depois pensei, porque não compartilhar? Então, vamos lá.

Literatura ficção
No início do ano, precisei fazer uma difícil viagem a Londres para finalizar um projeto importante que havia iniciado de forma independente com a BBC, logo após minha saída do Itaú. Sempre que viajo, separo um tempo para garimpar livros e álbuns, e dessa vez encontrei o recém lançado “Ghost Mountain” do irlandês Rónán Hession. Um livro mágico que inicia com a súbita aparição de uma montanha em uma pequena cidade e que lhe aproxima a cada página de personagens ao mesmo tempo ordinários e fantásticos. Um livro cheio de beleza, tristeza, aceitação e complexidade – que, em alguns momentos, me fez sentir como uma criança que lia Ziraldo pela primeira vez, e em outros como um adulto em um momento trágico de vida que sofre a cada página de algum romance de Dostoievski.

https://bluemoosebooks.com/books/author/ronan-hession

Artigos
Enquanto nos preparávamos para lançar a The Cynefin Co. Brazil, as experiências com o Estuarine Mapping ganhavam força por aqui e pelo mundo, e a necessidade de explorar a fundo as teorias que Dave Snowden havia organizado no framework e conectar com o que a prática nos respondia. Em março, Dave dedicou sua tradicional série anual St. Davis ao Estuarine Mapping e a todo o ecossistema que se conectava a sua volta (LINK). Essa série, principalmente o artigo 3/5, abriu para mim um “portal” de conexões que contribui imensamente para minha prática. Já no segundo semestre, o Manoel Pimentel escreveu uma série de artigos sobre Estuarine Mapping para a HSM que se tornou minha principal referência didática sobre o assunto. 

https://thecynefin.co/cynefin-st-davids-2024-estuarine-3-5

Música
Ao longo de 2024 consegui passar bastante tempo no que tenho chamado, por enquanto, de minha segunda casa: Monte Verde, em Minas Gerais. A navegação entre o cinza e o verde, naturalmente, acabou influenciando a minha trilha sonora para este ano, que passou a ter uma presença forte tanto das músicas montanhosas de Minas como do folk-rock americano. Nessa linha, os americanos do My Morning Jacket ficaram em #1 em ambas minhas retrospectivas de Spotify e Apple Music. Quanto aos lançamentos do ano, eu destacaria “Coyote” de Dylan LeBlanc, “Bright Future” da Adrianne Lenker e  “As It Ever Was, So It Will Be Again” dos The Decemberists.

Evento
O evento de lançamento da The Cynefin Co. Brazil, que aconteceu na FIAP em São Paulo em março, e o Cynefin Retreat 2024, o primeiro a ser sediado em nosso país, que organizamos em Monte Verde em novembro, foram, sem dúvida alguma, os eventos mais gratificantes e que mais me fizeram sentir vivo, feliz e orgulhoso. Se o primeiro marcava a conquista de algo que gestamos e sonhamos durante muitos anos, no segundo conseguimos criar o tipo de experiência pela qual queremos que nossa empresa seja reconhecida – seja nos nossos eventos ou nos engajamentos de consultoria com nossos clientes. Você pode acompanhar uma série de vídeos do retreat que estão sendo publicados em nosso canal no LinkedIn. Ah… e o de 2025 já tem data marcada e inscrições abertas!

Cynefin Retreat Brasil 2024

Termos
Vou ficar com o clichê assustador do “Brainrot” que aponta para um possível deterioração mental causa principalmente pelo excesso de consumo de conteúdos “pobres” no mundo virtual, e o positivo “JOMO” (Joy of Missing Out) que traz uma urgente resposta ao “FOMO” (Fear of Missing Out) .

Comida/Bebida
Gosto bastante do Le Jazz Brasserie, em especial da unidade na Rua dos Pinheiros, em São Paulo. Esse ano fui surpreendido por um prato que já faz parte do seu cardápio a bastante tempo mas que eu ainda não havia experimentando, a “Langue à la Moutarde” que traz toda a nostalgia da popular cozinha “de mãe” com um toque refinado, mas sem excessos, da cozinha francesa – é de lamber o garfo. De bebida, eu vou com a caipirinha “Do Souza” feita com três limões com tangerina no Esquina do Souza, ali na Pompéia em São Paulo – me chame se decidir ir lá experimentar, eu moro pertinho. 🙂

https://www.lejazz.com.br/#brasserie

https://www.instagram.com/esquinadosouza/

Cinema
Indo direto ao ponto: adorei “A Substância” de Coralie Fargeat. É certamente o filme mais louco, ousado…e brilhante que vi esse ano. Um roteiro poderoso sobre adoração estética, mas que não fala sobre isso, e que conta com atuação ofensiva do trio Demi Moore, Margareth Qualley e Denis Quaid. Penso que é um daqueles raros filmes que envelhecerá muito, muito bem. 

Podcast
Como defensor da crítica como prática sou apenas mais um assustado com o quanto as pessoas tem cada vez mais evitado  pensar e discutir publicamente de forma crítica. Parece que todos precisam colecionar momentos maravilhosos, concordar facilmente com o senso comum, e seguir em manada a um mesmo lugar onde todas as experiências (principalmente as publicáveis nas redes sociais) precisam ser inquestionavelmente ótimas. Pois bem, a revista The New Yorker tem um podcast que adoro chamado “Critics at Large” e este ano teve um episódio bem interessante e introdutório entitulado “The Case for Criticism” que explora justamente o papel da crítica na sociedade. Vale escutar – e criticar 🙂 

https://www.newyorker.com/podcast/critics-at-large/the-case-for-criticism

Teatro
Em setembro, estive em Nova York e pude assistir a nova adaptação de “Sunset Blvd.” para o teatro, agora dirigida por Jamie Lloyd. Mesmo sendo bastante crítico a adaptações e revivals, tive que sair do teatro repetindo incontáveis vezes que aquela teria sido uma das melhores performances teatrais que havia visto em toda minha vida. Super desconfiado pela escolha da ex-Pussycat Doll Nicole Scherzinger para o papel Norma Desmond cheguei ao teatro com o pé atrás. No entanto, bastaram míseros três atos (!) para que eu me entregasse completamente à sua atuação e a todo o resto – inclusive à arriscada escolha de introduções tecnológicas ao musical, o que, com alguma razão, será algo criticado pelos mais puristas. Único, emocionante, imperdível.

https://sunsetblvdbroadway.com/

Literatura Não-ficção
Início de dezembro, quando eu já tinha decidido qual tinha sido o meu livro preferido de não-ficção de 2024, recebo “What Art Does: An Unfinished Theory” de Brian Eno e Bette Adriaanse – em uma edição com produção artesanal e autografada pelos autores. Muitos sabem do meu “man crush” com Brian Eno, e por isso hoje sou honesto ao admitir que para mim é muito difícil exercer o total da minha crítica quando consumindo qualquer coisa que ele faça. O livro tem a ambição de começar a explicar cientificamente o que é arte, o que ela faz conosco, porque ela importa – se é que importa. Eno e Bette fazem isso com uma linguagem tão acessível que deixaria Stephen Hawking com inveja. Cada página, brilhantemente ilustrado, merece uma pausa de muitos minutos para anotações e reflexões. É um livro único, que vale ser lido incontáveis vezes. Uma obra prima. 

https://www.enoshop.co.uk/product/what-art-does.html