Estuarine Mapping é uma das principais abordagens pertencentes ao ecossistema do Cynefin Framework. A ideia central do Estuarine consiste no mapeamento da relação de energia e tempo para modificar itens gerenciais dentro de um determinado contexto organizacional. O Estuarine Mapping traz um conjunto bem articulado de ideias densas sobre construtores, constraints, atores etc. Entretanto, neste texto gostaria de compartilhar algumas breves análises sobre a dimensão energia dentro desse processo de mapeamento das possibilidades de mudanças de características em um sistema social.
O que é um Estuário?
A compreensão sobre gradientes de energia é importante dentro dessa abordagem pois Estuarine Mapping vem da metáfora de um estuário. De acordo com a Wikipédia, “estuário é um ambiente aquático de transição entre um rio e o mar, que sofre a influência das marés e apresenta fortes gradientes ambientais, desde águas doces próximos da sua cabeceira, águas salobras, e águas marinhas próximo da sua desembocadura”. Essas características fazem com que um estuário tenha uma intensa dinâmica de mudanças ambientais com múltiplos fluxos de entrada e saída. Quem já teve a oportunidade de ver e estar na foz do rio Amazonas no Pará, por exemplo, consegue imaginar o dinamismo energético necessário para diferentes tipos de seres vivos existirem nesse tipo de região. Daí importância da dimensão energia no Estuarine Mapping.
Custo de energia em sistemas organizacionais
Na biologia evolutiva existe um amplo entendimento de que o uso inteligente de energia é a condição essencial para a evolução das espécies. É possível afirmar que, em termos práticos, os seres que, em diferentes níveis de existência, fazem o melhor uso de energia sobem na escada evolutiva. É possível afirmar de fôrma análoga que esse mesmo fenômeno também acontece no mundo empresarial. Numa visão prática, as organizações que fazem o melhor uso de energia são capazes de prosperar nos ambientes competitivos complexos e dinâmicos.
Para compreendermos na prática como o Estuarine Mapping funciona, é necessário entendermos os diferentes espectros do custo de energia para mudar coisas em um sistema. Na perspectiva organizacional, o custo de energia significa o quanto de atenção, mobilização e recursos são necessários para fazer mudanças em um sistema de trabalho. Esse custo energético pode sofrer graduações em função dos efeitos da própria antro-complexidade presente nas organizações. No ecossistema Cynefin, antro-complexidade é a complexidade inerente às relações humanas. Numa visão antropológica, a complexidade social é construída pelo emaranhamento não-linear das múltiplas intenções, interações e identidades presentes em um sistema social humano. Dessa forma, o custo de energia organizacional pode ser maior ou menor dependendo de fatores conhecidos e não conhecidos e, ordenados e não ordenados na dinâmica social do contexto em questão.
Priorizando mudanças possíveis
A granularidade dos itens de mudança em uma análise sobre o custo de energia envolvida em uma transformação organizacional é de extrema relevância no Estuarine Mapping. Uma análise mais granular dos itens de mudança permite uma compreensão mais acurada dos recursos, esforços e custos envolvidos em cada aspecto da transformação organizacional. Isso significa que a organização pode identificar com mais clareza onde os maiores custos de energia estão sendo gerados e onde podem ser feitas otimizações ou melhorias. Além disso, refinar a granularidade dos itens de mudança pode ajudar a identificar interdependências e sinergias entre diferentes áreas ou aspectos da transformação. Isso é crucial para evitar redundâncias, conflitos e desperdícios de recursos, otimizando assim o processo de mudança. Por outro lado, um entendimento menos granular pode levar a uma visão superficial e simplificada da transformação, o que pode resultar em uma compreensão equivocada dos custos de energia e na falta de identificação de áreas críticas que requerem atenção especial.
O Estuarine Mapping ainda revela uma outra possibilidade pitoresca durante o mapeamento de mudanças. Trata-se da identificação de itens que, comparativamente à outros itens, possuem custo negativo de energia. Esse tipo de situação é útil para representar mudanças que já estão em curso, sem o qualquer tipo de controle ou influência dos agentes que estão mapeando aquele contexto. O mapeamento desse tipo de item é útil para desenhar ações capazes de minimizar os efeitos indesejados ou maximizar os benefícios desse tipo de situação nas organizações.
Construindo um melhor senso de direção
Na Cynefin Company Brazil, temos usado o Estuarine Mapping como base para facilitar diferentes movimentos transformacionais e estratégicos em clientes. Em nossas experiências, tem sido possível observar um ganho na qualidade e na clareza na qual as intervenções de mudanças são desenvolvidas. Essas nossas experiências corroboram com a visão do próprio Dave Snowden, pois temos observado o Estuarine Mapping sendo útil para:
- Iniciar e monitorar micro estímulos de mudanças. Na prática, isso significa trabalhar com vários pequenos projetos em vez de um grande projeto.
- Compreender onde estamos e iniciar jornadas com um senso de direção em vez de objetivos abstratos.
- Compreender e trabalhar com elementos disponíveis e não disponíveis de um sistema, gerenciando ambos para que as situações desejadas tenham um custo de energia menor do que as situações não desejadas.
De maneira geral, o Estuarine Mapping tem evoluído e ganhado praticantes rapidamente em todo o mundo. Seu uso combinado com ferramentas de sense-making e com próprio Cynefin Framework, tem auxiliado organizações de diferentes portes e segmentos a terem uma compreensão muito mais contextualizada e refinada sobre as direções de mudanças que precisam ser feitas para navegar desafios de negócios e organizacionais. Siga nossas movimentações em nossas redes sociais e nosso calendário de eventos em nosso site para ficar por dentro das evoluções de todo o ecossistema Cynefin no Brasil e no mundo.