Organizações que passam por momentos em que se torna necessário reduzir custos, recorrem muitas vezes aos cortes lineares. Cada área fica responsável por entregar um percentual da folha ou do orçamento, sem distinção. A análise sobre o que vai ser cortado acaba sendo delegada à liderança local. Aparentemente justo, mas na prática arriscado. O resultado pode ser a precarização da capacidade de entrega, com a falta de pessoas ou equipes em funções vitais. A eficiência dá lugar à perda de capacidade organizacional.
Uma alternativa é olhar para a estrutura com mais profundidade. Estudar como as funções de negócio estão distribuídas, em quais domínios de complexidade se manifestam, e como se entrelaçam estruturas, processos e diferentes tipos de trabalho.
Em domínios mais ordenados, onde predominam tarefas previsíveis e repetitivas, surgem as maiores oportunidades de eficiência direta. Automação, padronização e otimização de processos podem gerar ganhos rápidos e consistentes, sem comprometer a qualidade. É nesse espaço que tecnologia, IA, ferramentas digitais e revisão de fluxos rendem o melhor retorno.
Já em áreas que lidam com problemas mais próximos do domínio do complexo, o corte linear é perigoso. São, muitas vezes, os times que exploram, experimentam e interpretam sinais sutis do mercado. Reduzir essas equipes pode significar perder a capacidade de adaptação, justamente onde se decide o futuro da empresa.
Nesses contextos, a análise não se limita a organogramas ou número de pessoas. O Ecossistema Cynefin® permite explorar as nuances do trabalho: como as equipes interpretam sinais, quais padrões emergem da colaboração e onde a organização está captando ou desperdiçando informações críticas. Mais do que medir a topologia de times ou relacionamentos formais, trata-se de entender a dinâmica entre atores, o fluxo de sentido produzido e os pontos de fragilidade invisíveis nas planilhas.
Muitas vezes, gargalos e desalinhamentos não são fruto de excesso de pessoas, mas de como o conhecimento circula (ou não) na rede. Essa leitura da complexidade mostra se a composição das equipes e sua interação com o restante da estrutura estão realmente coerentes com o desafio estratégico.
Na imagem abaixo, vemos a situação de uma empresa em que cortes que atinjam funções de negócio como Go To Market ou Sucesso do Cliente podem gerar consequências imprevisíveis. A leitura simplista, “precisamos reduzir o custo de folha em X%”, não revela o impacto real do corte, porque a geração de valor está no domínio complexo. Nesses casos, o caminho não é reduzir linearmente, mas explorar alternativas de experimentação e novos arranjos para alcançar eficiência. É um exemplo claro de como cortes feitos sem considerar a natureza do trabalho podem levar à precarização das entregas.

Imagem meramente ilustrativa
O estudo de complexidade não substitui a busca por eficiência. Pelo contrário, aumenta a chance de alcançá-la sem comprometer capacidades essenciais.
Eficiência não precisa ser sinônimo de fragilidade. É menos sobre cortes lineares e mais sobre concentrar esforços onde a automação e a padronização geram ganhos, enquanto se preserva ou se investe nas áreas complexas que sustentam a adaptação e o futuro do negócio.