Estuarine Mapping: A necessidade de agir de acordo com a zona contrafactual nas transformações

Conforme temos compartilhado em nossas redes sociais, temos utilizado o Estuarine Mapping para ajudar clientes em diferentes tipos de questões transformacionais e estratégicas em suas organizações.  Revelar um mapa realístico sobre o que é e o que não é possível mudar em um determinado território é um dos objetivos dessa abordagem. Por essa razão, irei compartilhar nesse texto alguns conceitos e exemplos sobre a zona contrafactual presente em sistemas sociais e de negócio.  

Um dos principais objetivos do Estuarine Mapping é facilitar, de maneira colaborativa, a compreensão das disposições de custo de energia tempo das características disponíveis em um sistema social. Esse conceito das disponibilidades também é conhecido pela lente de affordances como explicado nesse meu artigo publicado na Revista HSM).  Através do entendimento do Estuarine Mapping como um mapa de disponibilidades, podemos então observar a importância que a zona contrafactual tem para identificar as mudanças possíveis em um determinado contexto organizacional. 

O que é algo contrafactual? 

Os conceitos fundamentais do Estuarine Mapping foram influenciados pelos avanços desenvolvidos por David Deutsch e Chiara Marletto sobre a teoria dos construtores. A ideia central da teoria dos construtores é que, ao examinar as transformações que podem ser realizadas (ou impedidas) sob determinadas condições físicas, conseguimos entender melhor os limites e as possibilidades dentro da própria estrutura das leis da física. Nessa teoria, os contrafactuais se relacionam com a ideia de que podemos analisar não apenas o que acontece, mas o que poderia acontecer sob diferentes condições. Por exemplo, a gravidade é uma característica contrafactual nas leis da física. Podemos até imaginar estados possíveis diferentes se não estivéssemos sujeito aos efeitos da gravidade, mas não conseguimos ir contra os fatos de que não podemos eliminar a natural atração gravitacional dos corpos. 

A contrafactualidade em temas transformacionais e estratégicos 

No Estuarine Mapping, a zona contrafactual refere-se a um espaço conceitual dentro do mapa que lida com situações ou possibilidades que não ocorreram, mas que poderiam ter ocorrido sob diferentes circunstâncias. Assim como o conceito de contrafactual na física, a zona contrafactual no Estuarine Mapping envolve a exploração de elementos factuais que não conseguimos ir contra em um determinado contexto organizacional. 

Como é possível observar na ilustração abaixo, a análise dos gradientes de energia e tempo se torna uma relevante aliada para ajudar na identificação dos itens contrafactuais. No Estuarine Mapping, essa zona é presentada por uma linha, que pode ter diferentes formas e tamanhos, localizada no canto superior direito do mapa. Essa localização indica os itens com maior custo de energia e tempo para serem mudados e, por essa razão, não é estratégico dedicar esforços de mudanças nesses itens em um determinado espaço-tempo de atuação. 

Em nossa experiência facilitando sessões de Estuarine Mapping, características sistêmicas como estrutura organizacional, regulamentações, distâncias geográficas e até mesmo fuso horário são tipicamente itens analisados como contrafactuais em muitas organizações. 

Entretanto, é importante destacar que elementos contrafactuais não representam apenas coisas negativas.  A contrafactualidade pode se manifestar em elementos que limitam as possibilidades de movimento, mas também, é possível ter elementos contrafactuais que também habilitam e constroem novas opções

Uma visão acional sobre as impossibilidades

O principal objetivo da zona contrafactual no Estuarine Mapping é identificar e analisar as interações que poderiam ter levado a outros resultados. Isso ajuda as organizações a entender não apenas o que aconteceu, mas também a ampliar a visão sobre o que poderia acontecer, oferecendo um espaço para aprender com alternativas não realizadas.  A ideia não é gerar paralisias frente as impossibilidades, mas sim, estimular atitudes para monitorar e aprender sobre como os elementos contrafactuais evoluem e influenciam o contexto organizacional. 

A zona contrafactual, portanto, fomenta uma maior flexibilidade no pensamento estratégico e uma compreensão mais profunda das dinâmicas energéticas e temporais em jogo dentro de um sistema complexo. Ela complementa a ideia de que o conhecimento e as interações em sistemas organizacionais são fluidos e multifacetados, assim como em um estuário.