Flexuous Curves é um dos frameworks que fazem parte do Ecossistema Cynefin, ao lado do próprio Cynefin Framework, Estuarine Mapping, Uncertainty Matrix e outros. O Manoel Pimentel fez um resumo bem bacana desses frameworks, vale conhecer.
Flexuous Curves é uma ferramenta que ajuda a visualizar o ciclo de vida de inovações. Segundo seu criador Dave Snowden, a ideia nasceu a partir do conceito biológico de predadores-alfa (em inglês, apex predators) cuja presença influencia o equilíbrio de um ecossistema. Um exemplo famoso desse reequilíbrio foi a introdução de lobos no Parque Yellowstone nos EUA, que reduziu a superpopulação de alces; essa redução fez com que novas plantas e árvores surgissem, o que por sua vez influenciaram o ciclo dos rios. A ação de introduzir espécies para restaurar a diversidade de ecossistemas é conhecida como Rewilding, que pode ser traduzida como “Restauração”.
Já as curvas tortuosas do Flexuous Cuves foram inspiradas nas S-Curves (Curvas S), que definem o ciclo natural – nascimento, crescimento, ápice e declínio – de basicamente qualquer conceito. Sejam espécies, ideias, produtos ou civilizações, tudo passa, ou passará, por uma Curva S. No campo da tecnologia e inovação, o autor Charles Handy evoluiu esse conceito no livro The Second Curve (A Segunda Curva), teorizando que tecnologias também têm ciclos finitos, e cedo ou tarde surgirá uma nova tecnologia para substituir a atual. O truque está em prever essa segunda curva e investir nela.
Uma outra referência para o desenho do framework foi o livro Atravessando o Abismo do Geoffrey Moore. Nesse livro o autor teoriza que toda inovação passa por um momento de provação representada por um abismo entre os Entusiastas/Visionários (aqueles que apostam no produto antes dele fazer sucesso) e os Pragmáticos/Conservadores (os que esperam o produto fazer sucesso antes de consumir). Uma pequena parte dessas inovações atravessa o abismo com sucesso, enquanto a imensa maioria fica pelo caminho.
É esse mashup das teorias dos Predadores Alfa, da Segunda Curva e do Atravessando o Abismo que ganhou o nome de Flexuous Curves.
As curvas tortuosas
Na imagem acima a curva verde nasce como uma inovação (1), atravessa o abismo (2) e ganha tração (3) até atingir seu ápice (4). Já a curva vermelha representa uma ideia atual, atingido seu ápice e entrando em declínio (5) ou uma possível recuperação (6). Os cruzamentos entre as curvas geram pontos de inflexão que representam a intersecção entre as ideias (alfa α), a percepção de disrupção (beta β), o espaço liminal entre o ápice da ideia atual e o abismo da inovação (gama γ), o declínio da ideia atual (omega Ω) e sua possível recuperação (delta δ). Como tudo que envolve o Ecossistema Cynefin, essas lentes ajudam a entender a realidade para tomadas de decisão.
O Alexandre Magno escreveu dois artigos (aqui e aqui) exemplificando a aplicação dessas ideias, inclusive apontando que a curva verde não necessariamente é uma inovação tecnológica, mas pode ser um novo comportamento observado.
As lentes sobre o tempo
Analisando o Passado em relação ao Presente, é possível usar as lentes do Flexuous Curves para interpretar centenas de histórias de transformação: os telefones analógicos substituídos pelos smartphones, a música analógica substituída pelo streaming, as bem conhecidas histórias da Kodak e Blockbuster – exemplos não faltam.
Mas uma aplicação bastante interessante do Flexuous Curves é jogar luz no Presente em relação a estratégias de Futuros. Uma organização que se encontra em um cenário representado pela curva vermelha precisa estar atenta a sinais de mudanças representadas pela curva verde, pois são elas que possivelmente tomarão seu mercado. Já uma organização representada pela curva verde precisa saber que ela enfrentará abismos à frente, e deverá atravessá-los se quiser sobreviver. E uma organização que atravessa o abismo precisa saber que lá na frente novas curvas de mudança surgirão e poderão impactar diretamente o seu negócio. O segredo está nos sinais que antecedem os movimentos das curvas e suas intersecções.
Conclusão
Organizações podem usar o Flexuous Curves no seu plano estratégico para entender seu estado atual, mapear sinais de tecnologias emergentes, identificar cenários de impactos, e definir se esperam a mudança acontecer ou se elas próprias provocam a restauração no seu ecossistema. Espécies biológicas desenvolvem bons instintos de preservação para saber quando agir ou quando se adaptar; as que não desenvolvem são as que ficam pelo caminho.