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A Neurociência dos Conflitos: Lições para Transformações Organizacionais

Transformações organizacionais, assim como os conflitos sociais ou de guerra, envolvem mudanças profundas em sistemas estabelecidos.


“Mente. Corpo. Mundo” é o tema que será amplamente discutido e praticado ao longo do ano em nossos eventos Cynefin Retreat. A edição brasileira acontecerá em Monte Verde, Minas Gerais, entre os dias 05 e 07 de junho – clique aqui para mais informações.

Transformações organizacionais, assim como os conflitos sociais ou de guerra, envolvem mudanças profundas em sistemas estabelecidos. São momentos em que os instintos de sobrevivência – individuais e coletivos – podem se manifestar com força total. Mari Fitzduff, especialista internacional em resolução de conflitos e construção da paz a partir da neurociência aplicada ao comportamento humano explica que “nossas respostas emocionais muitas vezes antecedem nossas respostas cognitivas,” o que significa que, em momentos de mudança, colaboradores e líderes podem reagir emocionalmente às transformações antes mesmo de compreenderem suas implicações racionais. Essas reações emocionais podem criar resistências, rupturas na comunicação e, em última instância, conflitos internos.

Essas respostas são muitas vezes automáticas e baseadas em mecanismos de proteção que evoluímos ao longo de milênios. No ambiente corporativo, isso pode se manifestar como uma resistência instintiva à mudança, alimentada pelo medo do desconhecido ou pela insegurança ao não saber se seu reconhecimento será o mesmo após o avanço da transformação. Assim como em cenários de guerra, onde o tribalismo intensifica as divisões entre grupos, em organizações as pessoas tendem a formar “microtribos” – equipes, departamentos, unidades, ou as informais e populares “panelinhas” – que defendem interesses próprios e muitas vezes entram em conflito com os objetivos globais da organização.

Fitzduff argumenta que “o tribalismo é, em sua essência, uma estratégia de sobrevivência que precisa ser redirecionada para promover cooperação em vez de divisão.” Esse insight é profundamente relevante para líderes que enfrentam o desafio de unir equipes durante transformações organizacionais. Reconhecer que as divisões internas são respostas naturais à incerteza permite que os líderes abordem essas dinâmicas com empatia e estratégias que incentivem colaboração em vez de competição.

Outra conexão crucial está na necessidade de criar espaços seguros para o diálogo e a resolução de conflitos. Ela enfatiza que, em contextos de guerra, “a transformação só ocorre quando há um esforço consciente para lidar com as emoções subjacentes e as narrativas que perpetuam os conflitos.” Da mesma forma, em organizações, líderes precisam promover ambientes onde as preocupações e medos dos colaboradores possam ser expressos e trabalhados, em vez de reprimidos. Esses espaços ajudam a desativar respostas automáticas de “luta ou fuga” e a abrir caminho para um engajamento mais construtivo.

As lideranças precisam estar cientes de seus próprios vieses emocionais, que podem influenciar suas decisões em momentos críticos. “Educar nossas mentes emocionais é tão importante quanto educar nossas mentes racionais,” afirma Fitzduff. Nas organizações, isso significa que líderes não devem apenas dominar sua área de especialidade e o navegar na politicagem organizacional mas também desenvolver inteligência emocional para lidar com o impacto psicológico das transformações em si mesmos e nos outros (mas me diga, você conhece alguma liderança que admita precisar evoluir nesse tema?)

Um ponto fascinante no trabalho de Fitzduff é a ênfase na narrativa como ferramenta de transformação, algo muito conectado com a forma com que nós da The Cynefin Co. Brazil pensamos e praticamos transformação. Em contextos de guerra, ela observa que “criar narrativas compartilhadas pode ajudar a superar divisões e construir bases para cooperação.” Nas organizações, isso pode ser traduzido na necessidade de articular uma visão clara e inspiradora da transformação. Quando os colaboradores entendem e internalizam os objetivos maiores de uma mudança, as resistências tendem a diminuir, e o sentimento de pertencimento aumenta.

“A paz duradoura só pode ser alcançada quando enfrentamos não apenas os problemas visíveis, mas também as dinâmicas invisíveis que os sustentam.”

Por fim, se você trabalha com transformação deve entender que conflitos são, muitas vezes, oportunidades disfarçadas de crescimento. Eles expõem falhas nos sistemas, nas relações e nas práticas, forçando indivíduos e grupos a repensarem suas ações e estruturas. Transformações organizacionais podem, portanto, ser vistas como momentos críticos de aprendizado e evolução, desde que sejam conduzidas com sensibilidade às dinâmicas emocionais e sociais envolvidas.

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